MACALA: ENTRE FENDAS DO RESISTIR E AS TRAVESSIAS DO MEMORAR
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Resumo
Examinar a produção poética de Luciany Aparecida é a principal proposta desse trabalho que tem como objetivo compreender os princípios temáticos, estéticos e formais que regem o livro intitulado Macala. Publicado em 2022, a importância dessa obra se deve, entre outras coisas, por se tratar da primeira peça poética da escritora sendo parte integrante do projeto Círculo de Poemas, lançado pelas editoras Fósforo e Luna Parque. Além disso, também é interesse dessa pesquisa entender como as discussões relacionadas à questão da memória, resistência negra e imigração se manifestam na obra, inclusive em termos de sua fisicalidade, uma vez que os elementos estéticos que adornam o livro se valem da edição gráfica de Marina Ambrasas, que inicia a jornada do constante processo de ressignificação do objeto/termo que intitula o livro, Macala ou Makhala. Para tanto, tomando como base teórica as considerações de Reginaldo Prandi (2001), na obra Mitologia dos Orixás; e do estudioso Pierre Fatumbir Verger (2018), em Orixás: deuses e iorubás na África e no Novo Mundo, entre outros. A metodologia empregada é de caráter bibliográfico de cunho qualitativo, uma vez que levanta discussões críticas acerca das ressignificações do termo moçambicano que nomeia a obra, partindo da coleta de textos, leitura e análise de material já publicado, fazendo uso de revisão de literatura. Desse modo, a partir do exame da obra em destaque, pretende-se entender sua importância no cenário da poesia brasileira contemporânea relacionada a questões de luta negra. Conclui-se, com isso, que os versos que integram Macala representam uma poética de combate e exaltação das raízes da cultura afro-brasileira, a partir de suas fendas de significação que levam a compreender a relevância das discussões étnicas que transcendem a literatura e ressoam no resgate da memória por via do culto da ancestralidade.
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